segunda-feira, outubro 15, 2007

Olavo de Carvalho

Votando no capitão
Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 11 de outubro de 2007

Quem quer que tenha acompanhado as minhas aulas sobre a “teoria dos quatro discursos” – e, graças à internet, é um bocado de gente, a esta altura – sabe que uma das principais dificuldades na arte da palavra é a mudança de clave do discurso poético para o retórico. Ninguém faz isso direito, porque a primeira das duas modalidades está focalizada na exteriorização de percepções íntimas, a segunda no manejo deliberado das reações do ouvinte ou leitor. Expressão é uma coisa, persuasão é outra. Nos dois casos, trata-se de criar uma verossimilhança, mas a verossimilhança poética é pura coerência entre imagens, a retórica um acordo bem dosado entre o que você quer dizer e o que o público quer ouvir. Por isso o discurso poético se dirige a um auditório geral e indefinido, abrindo-se à multiplicidade imprevisível das interpretações que lhe dêem, ao passo que o retórico se dirige a uma platéia em particular, permanecendo ineficaz sobre as demais, exceto se ouvido como mera produção poética, desligada dos fins práticos a que visava originalmente.
Daí o fenômeno, tão repetidamente comprovado, de que o artista narrador, seja no romance, no teatro ou no cinema, não tenha controle quase nenhum sobre o sentido político-ideológico da história que narra, o qual sentido não depende da narrativa em si, mas dos fatos do mundo exterior – remotos e fora do alcance do artista -- a que a platéia associe os episódios narrados, fazendo destes o símbolo daqueles.
Gênios do porte de um Stendhal ou de um Balzac não venceram essa dificuldade – por que deveríamos exigi-lo dos nossos miúdos cineastas tupiniquins? Todos eles são mais comunistas que a peste, mas isso não impediu que em “Central do Brasil” o menino perdido, fugindo do inferno urbano, encontrasse no Brasil rural os antigos valores que são a essência mesma do conservadorismo: a família, a religião, a segurança, o amor ao próximo. Nem que “Cidade de Deus” resultasse numa apologia do que pode haver de mais reacionário e pequeno-burguês: subir na vida por meio do trabalho honesto.
Agora, José Padilha é crucificado pela esquerda porque em “Tropa de Elite”, pela primeira vez, o cinema nacional mostra a violência carioca pelo ponto de vista da polícia, que é o dos cidadãos comuns, e não pelo dos bandidos, que é o da classe artística, dos “formadores de opinião” e do beautiful people esquerdista em geral. Padilha não fez isso porque queria, mas porque, tendo optado por uma narrativa realista, teve de ceder à coerência interna entre os vários elementos factuais em jogo, mostrando as coisas como elas aparecem aos olhos de qualquer pessoa que esteja boa da cabeça e não tenha se intoxicado nem de cocaína nem de Michel Foucault, como o fazem aqueles três grupos de criaturas maravilhosas. O resultado é que no seu filme os traficantes são assassinos sanguinários, os policiais corruptos são policiais corruptos, os policiais bons são homens honestos à beira de um ataque de nervos, os estudantes esquerdistas metidos a salvadores do país são clientes que alimentam o narcotráfico e mantêm o país na m.... Todo mundo sabe que a vida é assim, e é por isso que instintivamente todo mundo acha que descer a mão em bandidos, por ilegal que seja, é incomparavelmente menos grave do que o imenso concurso de crimes – guerrilha urbana, homicídios, seqüestros, assaltos, contrabando, corrupção política – que o narcotráfico traz consigo. Daí que, entre as razões do policial idôneo e as da bandidagem – que são as mesmas da esquerda iluminada --, o povo já tenha feito sua escolha: Capitão Nascimento para presidente.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Janer Cristaldo I

Quinta-feira, Agosto 23, 2007

DOIS QUARTOS PREOCUPANTES






O primeiro é do Reino Unido. Segundo as notícias, um quarto de todos os bebês do Reino Unido tem um pai estrangeiro. No ano passado ocorreram 735 mil nascimentos do país, contra 663 mil quatro anos antes. Em 2001, a percentagem de pais estrangeiros era de 20%. Hoje é de 25%. Segundo um porta-voz do United Kingdom Office for National Statistics, isto reflete o efeito cumulativo da imigração nos últimos 40 anos e todas as evidências são de que estas cifras persistam.



O problema não é exatamente que um quarto dos bebês tenha pais estrangeiros. O problema é que boa parte deste quarto tem pais muçulmanos. Há alguns meses, o mesmo organismo de estatísticas noticiava que o segundo nome mais popular entre os meninos nascidos na Inglaterra é Muhamad. Jack ainda está em primeiro lugar, mas isso não deve durar muito. O nome Aisha ocupa a 110ª posição entre os nomes mais populares para meninas. Os pais britânicos que batizaram seus filhos de Moahamed são em geral originários de Bangladesh, Índia, Paquistão e de países árabes. O nome muçulmano para os filhos é uma tentativa de reforçar os laços com a religião de origem.



Quando deixará o Reino Unido de ser majoritariamente britânico? O recenseamento de 2001 revelou que as famílias inglesas muçulmanas totalizam de 1,6 milhões de pessoas, ou seja, 8% do total da população. A taxa de natalidade dos britânicos é de 12,3 nascimentos por 1.000 habitantes. Entre os muçulmanos cresceu 12% nos últimos sete anos. Depois da França e da Alemanha, a comunidade muçulmana no Reino Unido é a terceira em tamanho na Europa. Analistas já aventam a hipótese de o Reino Unido tornar-se um país muçulmano. Até aí, problema dos britânicos. Para nós, o mais preocupante é o segundo quarto. O nosso.



Os jornais de hoje noticiam que o programa Bolsa Família atende quase um em cada quatro brasileiros, segundo estudo divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento Social. De setembro de 2005 a março de 2007, o número de famílias atendidas cresceu 46,05%, passando de 7,6 milhões para 11,1 milhões. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o número de brasileiros beneficiados pelo programa - isto é, aquela gente toda que não trabalha e fica à espera da esmola estatal a cada fim de mês - hoje chega a 45, 8 milhões de habitantes.



Em outras palavras, o Brasil que trabalha está levando nas costas, em números aproximados,



- dois terços da França

- uma África do Sul

- quase toda uma Espanha

- duas Coréias do Norte

- quase três Chiles

- quatro Cubas

- mais de quatro Grécias ou Bélgicas

- cinco Suécias

- 7,5 Israéis

- nove Finlândias

- treze Uruguais


- Enviado por Janer @ 5:26 PM

Janer Cristaldo



MEUS PRAZERES PERVERSOS


Ouvir besteiras de figuras ilustres é um de meus prazeres perversos. Sei lá por quê, mas me diverte. Ontem, o Supremo Apedeuta me proporcionou mais um desses prazeres, ao defender o Bolsa-Família. "Tem gente que critica o Bolsa-Família como um programa assistencialista, porque a gente está dando o direito de os mais pobres comerem. Agora, essas mesmas pessoas não criticam uma bolsa de US$ 2 mil que a gente paga para um doutor se formar no exterior. Não podemos aceitar o preconceito contra a bolsa que a gente dá para as famílias mais pobres comerem o feijão que precisam comer".

Para começar, Lula assume como sendo obra sua o tal de Bolsa-Família. Em verdade, é a unificação de programas assistencialistas anteriores do governo Fernando Henrique, como o Bolsa-Escola, Vale-Gás, Bolsa-Alimentação. Em sua insciência, o Apedeuta quer agora comparar esmolas de fundo eleitoreiro com especialização no Exterior. O Bolsa-Família é esmola sem contrapartida. A formação de doutores no Exterior é sinônimo de importação de ciência, tecnologia, know-how. Há um retorno, um ganho em capital humano para o país. O único retorno do Bolsa-Esmola é o voto nas próximas eleições.

Bem entendido, há doutorados completamente inúteis, que só servem para desmoralizar o programa de bolsas no Exterior. São as bolsas concedidas a acadêmicos que vão estudar a obra de Machado de Assis ou Nelson Rodrigues em Paris ou Londres, que pretendem analisar o uso do pronome relativo na poesia de Fernando Pessoa ou os elementos cabalísticos na ficção de Guimarães Rosa. Isto, de fato, é dinheiro jogado no lixo. Sem falar nos doutorandos que passam quatro cinco anos no Exterior chuchando nas tetas do Estado e voltam de mãos vazias. Confesso nunca ter visto em minha vida qualquer punição imposta a esses universitários. Não falo em cadeia, afinal não mataram ninguém. Mas pelo menos perda do emprego e devolução do recebido. Denunciasse o Supremo Apedeuta esta corrupção universitária, eu - que o abomino - seria o primeiro a cumprimentá-lo.

Mas não. O analfabeto estabelece um paralelo esdrúxulo, algo como comparar laranjas com triângulos isósceles. Infeliz do país de Terceiro Mundo que não envia seus universitários aos grandes centros de formação. Mas isto está longe do alcance de um bruto que se gaba de ser monoglota e inculto. O pior é constatar que este bruto conta com a adesão da maioria da nação. O Brasil elegeu e reelegeu Lula? Se isto antes me indignava, hoje não me indigna mais. Estou inclusive espiritualmente preparado para um terceiro mandato. O Brasil votou nele? Então o merece. Triste é ver a parte sadia da nação ter de viver este carma. -


Enviado por Janer @ 12:34 PM



Extraído do blog de Janer Cristaldo
www.cristaldo.blogspot.com

terça-feira, agosto 07, 2007

Do orgulho


Orgulho s.m. 1. Alto conceito de sí mesmo; soberba. 2. Ufania; satisfação; desvanecimento . (minidicionário Luf)

Orgulho
BRANCO?
Orgulho
NEGRO?
Orgulho Macho?

Orgulho
GAY?
Orgulho de que?


Sou d’um tempo em que, para um homem honrado, ser chamado de orgulhoso era motivo de vergonha.

terça-feira, maio 15, 2007


Quando o Papa João Paulo II veio ao Brasil pela primeira vez,
nós estávamos em transito do regime militar para a democracia.
O presidente era João Batista de Oliveira Figueiredo.
O Papa perguntou ao Presidente o motivo de ter tantos ministros,
ao que obteve como resposta:
-"Santidade, Jesus não tinha 12 apóstolos?
Eu tenho 12 ministros".

Em 2007, quando o Papa Bento XVI chegou ao Brasil,
perguntou ao Lula: Para quê 34 ministros?
O molusco, respondeu:-
"Veija bem compãnhero Çantidade......
Ali Babá num tinha 40 ladrãos?
Tô quase...

segunda-feira, maio 14, 2007

O desepero da piedade



Meu Senhor, tende piedade dos que andam de bonde

E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...

Mas tende piedade também dos que andam de automóvel

Quantos enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.


Tende piedade das pequenas famílias suburbanas

E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos

Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam

E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina


Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta

Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina

Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte

E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.


Tende imensa piedade dos músicos de cafés e de casas de chá

Que são virtuoses da própria tristeza e solidão

Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio

E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.


Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram

E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução

Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram

E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.


Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos

Quem em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão

E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão

Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...


Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros

Que se efeminam por profissão mas são humildes nas suas carícias

Mas tende maior piedade ainda dos que cortam o cabelo:

Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!


Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria

Que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos

Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo

Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.


Tende piedade dos homens úteis como os dentistas

Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer

Mas tente mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia

Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.


Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos

Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão

Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes

Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.


E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres

Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres

Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres

Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!


Tende piedade da moça feia que serve na vida

De casa, comida e roupa lavada da moça bonita

Mas tende mais piedade ainda da moça bonita

Que o homem molesta — que o homem não presta, não presta, meu Deus!


Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais

Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação

E sonham exaltadas nos quartos humildesOs olhos perdidos e o seio na mão.


Tende piedade da mulher no primeiro coito

Onde se cria a primeira alegria da Criação

E onde se consuma a tragédia dos anjos

E onde a morte encontra a vida em desintegração.


Tende piedade da mulher no instante do parto

Onde ela é como a água explodindo em convulsão

Onde ela é como a terra vomitando cólera

Onde ela é como a lua parindo desilusão.


Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas

Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade

Mas tende piedade também das mulheres casadas

Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.


Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas

Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas

Mas que vendem barato muito instante de esquecimento

E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.


Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas

De corpo hermético e coração patético

Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas

Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.


Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres

Que ninguém mais merece tanto amor e amizade

Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade

Que ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade.


Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras

Que são crianças e são trágicas e são belas

Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam

E que têm a única emoção da vida nelas.


Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse

Ter piedade de si mesma e da sua louca mocidade

E outra, à simples emoção do amor piedoso

Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.


Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas

A vida fere mais fundo e mais fecundo

E o sexo está nelas, e o mundo está nelas

E a loucura reside nesse mundo.


Tende piedade, Senhor, das santas mulheres

Dos meninos velhos, dos homens humilhados — sede enfim

Piedoso com todos, que tudo merece piedade

E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!


Vinícius de Moraes

Cuba libre, Señor?


"É verdade que em Cuba todo mundo sabe ler e escrever. O que ninguém sabe é que só se pode ler o que Fidel quer. Dezenas de escritores estão proibidos em Cuba. É uma crueldade infinita ensinar a ler e depois proibir os livros."



Raul Rivero, poeta cubano exilado na Espanha depois de dois anos preso em Cuba pelo crime de ter uma opinião contrária à do Presidente Fidel. Em entrevista concedida à revista Veja de 27 de junho de 2005

Perguntar não ofende!!!


Se a experiência comunista não deu certo em lugar algum, porque ainda tem gente que teima em ser marxista?


Anônimo disse...

Sagaz,
A experiência comunista/socialista ainda não deu certo porque pessoas como vc ainda teimam em não debater o assunto, talvez por medo ideológico ou por ser adépto do imperialismo praticado pela égide da bandeira tricolor americana.
Pense bem, raciocine um pouco.
Abraços.

Fevereiro 05, 2008 9:11 AM

Excluir
Anônimo Anônimo disse...

Sagaz,
Não esqueça de perfumar também o local onde vc irá raciocinar.
Deve ser muito fedorento, como fedorenta deve ser a sua personalidade neo-capitalista.

Fevereiro 05, 2008 9:13 AM

Como se percebe pelos gentis comentários acima, a pergunta ofende, e muito.
Para o primeiro anônimo, respondo:
Querido, já não tenho mais saco para debater novamente tais questões. Durante anos as estudei e debati. Primeiro, como membro atuante do partido comunista do Brasil, segundo, nos meus tempos de estudante das ciencias sociais, que no Brasil é sinônimo de ensino de marxismos. Portanto, do assunto, sinto-me bastante abalizado. Já refleti sobre ele mil vezes e tenho a minha opinião formada, ou melhor, reformada, pois já acreditei nessa baboseira.
Deus te ilumine!!!!
Resposta para o segundo anônimo:
Filhinho, sua mamãe não o ensinou a respeitar os mais velhos? Olha que ela acaba cortando a sua mesada, viu?

segunda-feira, maio 07, 2007

Sorte do orkut-- Sorte?

Sorte de hoje:
A vontade das pessoas é a melhor das leis
=======================================

Que sorte de hoje mais irresponsável. Quer dizer que se uma pessoa tiver vontade de fazer mal a outra, pode fazer porque sua vontade é a maior das leis?
O orkut tem um filósofo formado por correspondência, ou, muito pior, discípulo de antônio gramsci.

sábado, abril 28, 2007

Janer Cristaldo


Quinta-feira, Abril 26, 2007

MENTIRA COMPLETA 70 ANOS



Leio na Folha on line:

A população de Guernica, na Espanha, relembrou nesta quinta-feira, 26, o 70º aniversário dos bombardeios que destruíram a cidade durante a Guerra Civil espanhola (1936-39) com a nomeação de capital mundial da paz. O massacre, ocorrido em 1937, foi a inspiração de uma das obras primas do pintor Pablo Picasso, batizada com o nome da cidade.

Que a cidade de Guernica relembre os setenta anos do bombardeio, entende-se. O que não se entende é que o redator acrescente a informação de que o bombardeio inspirou "uma das obras primas do pintor Pablo Picasso". Esta mentira, criada por Picasso, se repete há décadas. Como a mentira se repete, vou também repetir-me.

Ora, os fatos são bem outros. Picasso havia pintado uma tela de oito metros de largura por três e meio de altura, intitulada La Muerte del Torero Joselito, plena de cores fúnebres, que iam do preto ao branco, em homenagem a um amigo seu, o toureiro Joselito, morto em uma lídia. O quadro ficara esquecido em algum canto de seu ateliê. Ao receber uma encomenda para o pavilhão republicano da Exposição Universal de Paris de 1937, Picasso lembrou do quadro. Foi quando, para fortuna do malaguenho, a cidade de Guernica foi bombardeada pela aviação alemã. Ali estava o título e a glória, urbi et orbi.

Uns retoques daqui e dali, e Picasso deu nova função ao quadro. No entanto, até hoje multidões hipnotizadas pela propaganda vêem em uma cena de arena, com cavalo, touro e picador, uma homenagem aos mortos de Guernica. Busque o quadro na rede e examine-o. Você não vai encontrar um único elemento que lembre um bombardeio.

Esta lenda até hoje é repetida, tanto por professores e jornalistas como por escritores de renome. De um só golpe de pincel, o pintor malaguenho traiu a memória do amigo e mentiu para a História.

segunda-feira, abril 23, 2007

Perguntar não ofende, não é mesmo?



1. Por que o presidente do povo usa terno Armani?



2. Por que o presidente do povo pode ter ensino fundamental

incompleto e um gari necessita de ensino fundamental completo?



3. Por que o presidente do povo acumula aposentadoria por

invalidez; aposentadoria de dep. federal, pensão vitalicia

de "perseguido político", salário de presidente de honra do PT e

salário de presidente da república?



4. Por que o presidente do povo é 'perseguido político' sendo que

passou apenas UMA noite no DOPS?



5. Por que o presidente do povo comprou um avião da concorrente da

Embraer?



6. Por que o presidente do povo se aposentou por invalidez apenas

por ter um dedo a menos e hoje trabalha como presidente do Brasil?



7. Por que o presidente do povo protege seus amigos comprovadamente

corruptos e nunca acontece nada com ele?



8. Por que o presidente do povo se vangloria de não ter estudo e

ser filho de mãe analfabeta e acha normal ter filhos estudando fora

do Brasil?



9. Por que o presidente do povo quando do seu mandato de Dep.

Federal, não participou da vida parlamentar do Congresso?



10. Por que o partido do presidente do povo tem ligações com as

FARC e ninguém comenta isto?



11. Por que a mulher do presidente do povo não faz absolutamente

nada?



12. Por que o presidente do povo não sofreu impeachment como o

Collor sofreu?



13. Por que a candidata Heloísa Helena foi expulsa do PT e o José

Dirceu (dep. cassado) e Antonio Palocci (indiciado por quebra

ilegal de sigilo bancário e outros crimes) não o foram?



14. Por que o presidente do povo nunca soube das coisas ruins do

partido e do governo dele, MAS SABE DE TUDO SOBRE OS GOVERNOS

ANTERIORES???


Perguntas de autoria de Alexandre, extraídas da comunidade do orkut, CONSERVADORISMO.

domingo, abril 15, 2007


A vigarice acadêmica em ação

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio (editorial) , 10 de abril de 2007


A declaração escandalosa da ministra Matilde Ribeiro, incentivando abertamente a hostilidade dos negros aos brancos, não é um produto original da sua cabecinha oca. É o eco passivo de uma longa e ativíssima tradição cultural. Desde que Stalin ordenou que o movimento comunista explorasse todos os possíveis conflitos de raça e lhes desse o sentido de luta de classes, ninguém obedeceu talvez a essa instrução com mais presteza, fidelidade e constância do que os “cientistas sociais” brasileiros.

Praticamente toda a nossa produção universitária nesse domínio consiste num longo e barulhento esforço para instigar nos negros e mulatos o ódio retroativo não só aos senhores de escravos e aos descendentes de senhores de escravos, mas aos brancos em geral, inclusive os que lutaram pela libertação dos escravos, os que se casaram com pessoas negras, os que nunca disseram uma palavra contra a raça negra nem lhe fizeram mal algum. Todos esses, segundo a doutrina do nosso establishment acadêmico, são racistas inconscientes, virtualmente tão perigosos quanto Joseph Goebbels ou a Ku-Klux-Klan. Até os negros são um pouco racistas contra si próprios. Inocentes do crime de racismo, só mesmo os distintos autores desses estudos e os militantes das organizações inspiradas neles. Ou seja: ou você é um dos acusadores, ou é um dos culpados. Tertium non datur .

Um fluxo incessante de teses de mestrado e doutorado, fartamente subsidiadas pelo governo e por fundações internacionais bilionárias, jorra das nossas universidades para dar credibilidade a essa doutrina adorável. Os oito preceitos metodológicos que a fundamentam são os seguintes:

1. Atribuir à discriminação racial a diferença de padrão econômico entre negros e brancos, omitindo o fato de que entre a abolição da escravatura e o início da industrialização nacional transcorreram mais de quarenta anos durante os quais a população negra libertada se reproduziu incomparavelmente mais que o número de empregos disponíveis.

2. Mostrar os negros como vítimas predominantes de crimes violentos, sem perguntar se não são também predominantemente os autores desses crimes. Todo assassino, branco ou negro, é assim considerado a priori um instrumento da violência branca contra os negros.

3. Do mesmo modo, explicar toda violência policial contra negros como efeito do racismo branco, sem perguntar se os policiais que a cometeram eram negros ou brancos.

4. Mostrar os europeus sempre como escravizadores e os negros como escravizados, omitindo sistematicamente o fato de que as tropas muçulmanas, repletas de negros, invadiram a Europa e aí escravizaram milhões de brancos desde oito séculos antes da chegada dos europeus à África.

5. Explicar portanto a escravidão interna na África como mero efeito da escravidão européia, invertendo a ordem do tempo histórico.

6. Transformar cada raça em pessoa jurídica, titular de direitos, quando negra, e de responsabilidade penal, quando branca.

7. Dar por implícito que todo branco é culpado pelos atos dos senhores de escravos, mesmo quando não tenha um só deles entre os seus antepassados e mesmo que tenha chegado ao Brasil, como imigrante, décadas depois do fim da escravidão.

8. Lançar a culpa de tudo na “civilização judaico-cristã”, justamente a única que, ao longo de toda a história humana, fez alguma coisa em favor das raças escravizadas.

A palavra “viés” é delicada e sutil demais para qualificar a atitude mental que gera esses estudos. A sociologia das raças que se produz nas nossas universidades é puro material de propaganda, deliberadamente mentiroso e calculado para legitimar a violência revolucionária contra aquilo que o ex-governador Cláudio Lembo chamou de “elite branca cruel e egoísta”. Ciência social, no Brasil, é crime organizado.

sábado, março 24, 2007

O que realmente provoca a miséria do mundo

Aprendendo com o Dr. Johnson

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio (editorial) , 21 de março de 2007

O dr. Samuel Johnson, escritor maravilhoso e antepassado setecentista dos modernos conservadores, dizia que o teste definitivo de uma civilização está na sua maneira de tratar os pobres. Na sua época, ninguém tinha tido ainda a idéia brilhante de desvencilhar-se deles entregando-os aos cuidados da burocracia estatal. Essa idéia, mesmo que não seja levada à prática, já vale por um teste: ela mostra que a sociedade não sabe o que fazer com os pobres, não quer trato direto com eles e preferiria reduzi-los a mais um ítem abstrato, invisível e inodoro do orçamento estatal. Ela acha isso mais higiênico do que enfiar a mão no bolso quando eles pedem uma esmolinha e infinitamente mais palatável do que ter de conversar com eles quando têm o desplante de puxar papo na rua com S. Excia. o contribuinte. Na verdade o cidadão moderno desejaria chutar todas as suas responsabilidades para o Estado: ele não quer proteger sua casa, mas ser protegido pela polícia; não quer educar-se para educar seus filhos, mas entregá-los a técnicos que os transformarão em robôs politicamente corretos; não quer decidir o que come, o que bebe, o que fuma ou deixa de fumar: quer que a burocracia médica lhe imponha a receita pronta; não quer crescer, ter consciência, ser livre e responsável: quer um pai estatal que o carregue no colo e contra o qual ele ainda possa fazer birra, batendo o pezinho na defesa dos seus “direitos”. O Estado sorri, porque sabe que quantos mais direitos concede a esse cretino, mais leis são promulgadas, mais funcionários são contratados para aplicá-las, mais repartições burocráticas são criadas, mais impostos são cobrados para alimentá-las e, enfim, menor é a margem de liberdade de milhões de idiotas carregadinhos de direitos.

Essa civilização já se julgou a si mesma: constituída de moleques egoístas e covardes, ela não é capaz de se defender. Ao primeiro safanão mais forte, vindo dos comunistas, dos radicais islâmicos ou dos autonomeados governantes do mundo, ela se põe de joelhos abjurando lealdades milenares e prontificando-se a transformar-se no que o novo patrão deseje.

Nem todos, é claro, se acomodam tão bem a essa agonia deleitosa. Ainda há homens e mulheres de verdade, capazes de agir por si próprios, sem intermediário estatal, orgulhosos da sua liberdade. Eles sabem que a liberdade efetiva não tem nada a ver com “direitos” outorgados pela burocracia espertalhona. Sabem que a liberdade vem do coração e depende de símbolos inspiradores profundamente arraigados na cultura dos milênios. Quando são abordados por um pobre na rua, sabem que não estão diante de um problema administrativo. Não correm para esconder-se sob as saias da burocracia. Encaram o pobre como um igual temporariamente caído, merecedor de tanto carinho e atenção quanto eles próprios o seriam em circunstâncias análogas. Não hesitam em estender algum dinheiro ao infeliz, em conversar com ele, às vezes em assumir responsabilidade pessoal por tirá-lo da sua condição infame, dando-lhe trabalho, um abrigo, um conselho.

A sociedade já se condenou a si mesma quando virou o rosto aos pedintes, sonhando em transformá-los numa equação administrativa. Só homens e mulheres de verdade podem salvá-la da derradeira abjeção. Não hesito em incluir entre eles o sr. Fausto Wolff, que é burro, metido e comunista, mas, graças à boa influência da sua esposa, está se tornando gente. Olhem só o que ele escreveu no JB de 2 de janeiro:

Minha mulher leva na bolsa R$ 10 em moedas para dar aos meninos que lhe pedem dinheiro para comer. Outro dia, contou-me uma história que comoveu este velho coração de granito. Um menino pretinho de cinco anos pediu-lhe dinheiro para comprar um pão. Ela disse-lhe: ‘Pois não, meu filhinho
querido’. O menino ficou com olhos cheios de lágrimas. Afastou-se e logo voltou e pediu mais dinheiro, mas, em verdade, o que queria era ouvi-la dizer que ele era querido. Logo, outros se aproximaram apenas para ouvir palavras carinhosas e se sentirem seres humanos. Em dez anos estarão queimando ônibus?

É isso aí, sra. Wolff! Se todas as mulheres brasileiras ensinarem isso a seus maridos, um sorriso de esperança brilhará nos rostos de milhões de crianças deste país.



Extraído do site:
www.olavodecarvalho.org



domingo, março 11, 2007

Pra um bom entendedor...

"Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter" - Adam Smith.



"A sociedade que coloca a igualdade à frente da liberdade irá terminar sem igualdade e liberdade". (Milton Friedman)


Falou e disse!!!!

quinta-feira, março 08, 2007

Amadas, recebi uma texto que, segundo a pessoa que enviou-me, foi escrito e postado num tal pirata zine. Trata-se de um texto sobre a tão falada maconha. Lógicamente o texto, depois de expor fatos prós e contras ao consumo de tal substância, fecha com uma comparação idiota e hipnótica da citada substância ilícita com outras substâncias lícitas e presentes no mercado. Tudo isso para defender a liberação da droga pelo governo. Eu, coloco-me contra a legalização da maconha por motivos que não tenho tempo e nem vontade de escrever aqui, agora. No entanto, defendo medidas menos severas para com os usuários, que tal como escravos, seguem condicionando a sua vida e felicidade à presença dessa droga (Tal não ocorre com todos, mas com uma significativa maioria).
Coloco abaixo, para a apreciação de todas, a parte do referido texto que mais me atrai e que mais me parece condizente com a realidade da relação com tal droga.
E falo isso com conhecimento de causa.
Façam bom proveito do texto!







"(...)O vício da maconha, embora usualmente seja de fundo psicológico, transforma ao menos 10% de seus usuários em dependentes químicos, os quais, se não tratados adequadamente, estarão sujeitos a uma série de problemas graves de saúde, tais como câncer de pulmão (o nível de nicotina da maconha é bastante alto) e esquizofrenia, que ainda não se pode afirmar se é provocada pelo consumo da maconha, ou se este apenas acelera o processo naqueles com propensão à doença; seja como for, é comum a associação entre a droga e a doença.
Menos devastadoras, mas não menos indesejáveis, outras ações prejudiciais à saúde de quem consome maconha regularmente são: esterilidade, falta de memória, tremor corporal, vertigens, taquicardia, alterações sensoriais e, se consumida em grandes quantidades, pode causar depressão.

Em algumas cidades (e Brasília, claro, é uma destas...), a saúde dos usuários está sujeita a riscos ainda piores, posto que os traficantes produzem a maconha em pedras, adulterando sua consistência natural - e sua composição química -, para o que se valem do uso de merla - um subproduto da cocaína - dissolvida em acetona, querosene, amônia e ácido de bateria automotiva (não, você não leu errado, é isso mesmo), e depois misturada à cannabis, assim formando uma 'paçoca' que pode levar o usuário a sofrer de um simples desmaio, passando por uma parada cardíaca, chegando, em casos mais extremos, a aneurisma cerebral(...)"


segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Amadas, a crônica abaixo, escrita pelo genial Nelson Rodrigues após o carnaval de 1968, é um dos seus momentos visionários. Aconselho-as a Lê-la antes e depois do carnaval. Depois me digam o sentimento que ela suscita. Percebam como o Nelson está certo (mais uma vez) na sua feliz e inteligente visão do óbvio.
Como ele mesmo diria: "Só os profetas enxergam o óbvio!".

A viuvez de sarong



Disse não sei quem que o desejo é triste. Triste de acordo, se for verdadeiro. Porque o falso desejo, o desejo apenas representado, é alegríssimo e salubérrimo. Eis o que eu queria dizer: - o carnaval que passou foi um espetáculo inédito na Terra. O turista que aqui veio teve uma sensação de erotismo unânime e colossal. Os gregos antigos achavam que o estrangeiro é divino. E divino porque não traz nome, nem passado, nem história, nem lenda. Tudo o que diz, ou faz, tem um toque de mistério e de sagrado. Assim pensavam os gregos. Mas eu diria que o turista de carnaval não é divino, mas obtuso. Passou aqui os quatro dias e viu tudo errado. "Errado, como?" - perguntará o leitor. Explico: - viu um erotismo que absolutamente não houve. Nunca se desejou tão pouco e repito: - nunca a mulher foi tão secundária para o homem, nunca o homem foi tão secundário para a mulher. Alguém poderá argumentar com os nus da televisão. E, de fato, o que se viu foi uma nudez indiscriminada, sim, uma nudez multiplicada, obsessiva e feroz. Usou-se um sarong que realmente só era sarong na cor. Em verdade, em verdade, o sarong era uma nesga de pano, vaga folha de parreira, sei lá. A TV é que olhava tudo com a pupila violenta dos faunos. Lembro-me de um ventre num baile. Durante horas o câmara parou nessa obsessão abdominal. E o espectador só via aquele umbigo, sempre o mesmo. Minto. Via também a cicatriz de uma apendicite recente. Nada de caras, ou de gestos. Só o umbigo e só a cicatriz. Na praia ou, pior, num campo de nudismo, há uma distância, uma distância que permite o mínimo de idealização da nudez. O olho não está tão próximo que possa descobrir uma pequena cicatriz. Ao passo que a TV elimina qualquer distância. Sua lente aproxima e amplia o umbigo e a cicatriz. Em todos os bailes, a função da imagem foi essa berrante ampliação. No vídeo, o cavo umbigo era um súbito e feio abismo. E a penungem leve, que o olho não percebe, que o próprio tato não sente, vira uma flora liliputiana, mas visível. Os poros estão lá. Em casa, o telespectador vê, de repente, aquele umbigo invadir sua intimidade. Não são milhares, e eu quase dizia, milhões de umbigos. É um único, sempre e fatalmente o mesmo. E a mesma cicatriz da mesma apendicite. Mas porque essa fixação cruel e cínica? Ao mesmo tempo em que era imposta a paisagem abdominal, vinha o locutor e falava em "festa sadia". Sadia, como? Sadia, o quê? E todas as estações, todas, insistiam em chamar tudo de "sadio". Uma cidade inteira se despia para milhões de telespctadores. Isso era profundamente "sadio". Uma câmara fixava um único e exclusivo umbigo. Muito saudável. E a cicatriz enfiada na cara do telespectador? Saudabilíssima. O pobre turista, com a sua obtusidade de turista, via em cada rapaz um fauno de gaita e em cada mocinha uma ninfa de tapete. Mas dizia eu que o desejo não tem nada a ver com alegria e nada a ver com multidão. O desejo é triste e exije o pudor, o segredo, o mistério, a exclusividade do casal (desculpem estar aqui proclamando o óbvio). Aí está dito tudo: - o casal. Acabamos de ver uma festa coletiva, em que o casal não teve função, nem destino. E os pares que se beijavam para milhões de telespectadores eram falsos casais, fingindo um desejo, representando um amor. Conheço um rapaz que conheceu e amou uma pequena. Imediatamente, os dois construiram uma solidão desesperadora. Ninguém vê o rapaz, ninguém vê a pequena. Eles andam por não sei que catacumbas, não sei que terrenos baldios. Deus me livre que fossem os dois para o baile do Municipal, que é, justamente, o túmulo ululante do amor e, até, do simples e animal desejo. Sempre que um homem e uma mulher se gostam precisam estar prodigiosamente sós, como se fossem o primeiro, único e último casal da Terra. Nunca houve um carnaval tão triste, porque nunca houve um carnaval tão nu. Dirá alguém que minha obsessão pela nudez é fixação infantil. Não sei se infantil, mas é uma fixação. Os jornais e os locutores vão falar de "alegria, alegria". Realmente, não houve tal. Nada mais triste do que a nudez sem amor. Mas o nu é sempre tão belo, dirão alguns. Nem isso. É feio, e repito: - sem amor, é feíssimo. Ontem, pela manhã, saio de casa perto do meio-dia. Em baixo, na porta, encontro um amigo. Já no cumprimento sinto a sua amargura. Seu lábio tem o ricto cruel de certas máscaras cesarianas. Diz o "bom-dia" e logo geme: - "Como é feio um umbigo! Você não acha um umbigo um negócio feio pra burro?". Pedia, pelo amor de Deus, a minha soliedariedade estética. Sim, quarta-feira a cidade acordou com o tédio cruel, uma ressaca insuportável de umbigos femininos. Estamos todos ressentidos contra eles. E deprime ver a soma de esforços e de conivências que uma simpes nudez exige. Uma garota faz, ou compra, um sarong equivalente à folha de parreira. Mas ela não faria isso sozinha. O uso do sarong seria impossível sem o apoio do pai, da mãe, dos irmãos, do marido, do namorado, dos vizinhos, das autoridades, da imprensa, rádio e televisão. Todos aceitam e estimulam porque todos, inclusive as autoridades, querem ser "pra frente". Vi, no Municipal, a viúva de um aviador que se espatifou contra a montanha. Pôs ela um sarong na sua viuvez e foi sambar. Quero crer que o falecido também autorizou. Vejam quantas instituições se juntaram para promover um símples umbigo. E, então, a mocinha vai para o Municipal. Será vista por dez mil pessoas no baile. Vamos somar as dez mil pessoas e mais cinco milhões de telespectadores da cidade e Estados. Portanto, cinco milhões e dez mil vão ter o que devia ser exclusividade do bem-amado. E como a televisão amplia mais do que o olho do ser amado, este não verá o que cinco milhões viram com a mais deslavada nitidez. E perguntará o leitor: - "quer dizer que somos todos cínicos?" Exatamente: - cínicos. Não me venham falar em alegria. Na quarta-feira de cinzas o brasileiro acordou com este sentimento inexorável: - como é feia, triste, humilhada, ofendida, a nudez sem amor. [29/2/1968] NELSON RODRIGUES

domingo, fevereiro 11, 2007



Trabalho serve!
Educação serve!
Respeito serve!
Honestidade serve!
Dignidade, então, nem se comenta...

domingo, janeiro 28, 2007

Nelson Rodrigues era um anjo!!!

Ah!!! Nelson Rodrigues!!! Anjo de asas tortas e coração reto!!!!
Nelson era um anjo! Poucos o reconheceram como tal. Mas, creiam, ele era um anjo de verdade.
Nelson era dono de um imenso coração, um iluminado coração. Para conhecê-lo melhor, basta lê-lo em suas crônicas, em suas memórias. Recomendo as escritas entre 18 de fevereiro e 31 de maio, no Correio da Manhã. Nestas crônicas ou memórias, Nelson desvenda o grande homem que foi. Nos dá a dimensão da sua bondade, do seu humanismo à moda antiga (humanismo antigo, que morreu com a chegada da pós-modernidade e suas pós-modernagens), do seu caráter de anjo, pornográfico, mas anjo.
As crônicas escritas nesta época estão reunidas no livro: A menina sem estrela (companhia das letras).
Leiam e permitam-se conhecer um dos grandes brasileiros do século 20.
Leiam também o livro de Ruy Castro: O anjo pornográfico. Uma biografia de Nelson Rodrigues.

E que este anjo esteja mais presente no espírito do nosso tempo, pois estamos precisando. Creiam!!!!

sábado, janeiro 27, 2007

Orgulho s.m. 1. Alto conceito de sí mesmo; soberba. 2. Ufania; desvanecimento . (minidicionário Luf)

Orgulho
BRANCO?
Orgulho
NEGRO?
Orgulho
MACHO?
Orgulho
GAY?

Orgulho de que?

Sou d’um tempo em que, para um homem honrado, ser chamado de orgulhoso era motivo de vergonha.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Mário Quintana


Se eu fosse um padre


Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,




não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,



Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!



Porque a poesia purifica a alma

... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!