quarta-feira, setembro 17, 2008

Perguntar Não ofende!!! (????)


Se a experiência comunista não deu certo em lugar algum, porque ainda tem gente que teima em ser marxista?


Anônimo disse...

Sagaz,
A experiência comunista/socialista ainda não deu certo porque pessoas como vc ainda teimam em não debater o assunto, talvez por medo ideológico ou por ser adépto do imperialismo praticado pela égide da bandeira tricolor americana.
Pense bem, raciocine um pouco.
Abraços.

Fevereiro 05, 2008 9:11 AM

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Anônimo Anônimo disse...

Sagaz,
Não esqueça de perfumar também o local onde vc irá raciocinar.
Deve ser muito fedorento, como fedorenta deve ser a sua personalidade neo-capitalista.

Fevereiro 05, 2008 9:13 AM

Como se percebe pelos gentis comentários acima, a pergunta ofende, e muito.
Para o primeiro anônimo, respondo:
Querido, já não tenho mais saco para debater novamente tais questões. Durante anos as estudei e debati. Primeiro, como membro atuante do partido comunista do Brasil, segundo, nos meus tempos de estudante das ciencias sociais, que no Brasil é sinônimo de ensino de marxismos. Portanto, do assunto, sinto-me bastante abalizado. Já refleti sobre ele mil vezes e tenho a minha opinião formada, ou melhor, reformada, pois já acreditei nessa baboseira. Interessante é notar que o discurso comunista é todo pautado na conquista da liberdade, e você, contraditóriamente, não aceita uma opinião diversa da sua. Mas, como eu disse, o discurso do comunismo, somente o discurso, e mesmo assim antes de conquistar o poder, é pautado na liberdade. Quando os comunistas tomam o poder, aí a maior liberdade que se pode ter é dizer amém para tudo que o partido disser. Nesse aspecto você está bem enquadradinho.
Fico na dúvida se você é mais um militante bobinho ou um esperto dirigente de alguma entidade estudantil de uma dessas faculdades cheias de jovens sonhadores e idealistas.
Deus te ilumine!!!!
Resposta para o segundo anônimo:
Filhinho, sua mamãe não o ensinou a respeitar os mais velhos? Olha que ela acaba cortando a sua mesada, viu?

quinta-feira, maio 08, 2008

Eclesiastes III - Escritos do Rei Salomão


 

1 Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.

2 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

3 Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;

4 Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;

5 Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;

6 Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;

7 Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;

8 Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.

9 Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?

10 Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar.

11 Tudo fez formoso em seu tempo; também pós o mundo no coraçäo do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.

12 Já tenho entendido que näo há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida;

13 E também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um dom de Deus.

14 Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar; e isto faz Deus para que haja temor diante dele.

15 O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi; e Deus pede conta do que passou.

16 Vi mais debaixo do sol que no lugar do juízo havia impiedade, e no lugar da justiça havia iniqüidade.

17 Eu disse no meu coraçäo: Deus julgará o justo e o ímpio; porque há um tempo para todo o propósito e para toda a obra.

18 Disse eu no meu coraçäo, quanto a condiçäo dos filhos dos homens, que Deus os provaria, para que assim pudessem ver que säo em si mesmos como os animais.

19 Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fólego, e a vantagem dos homens sobre os animais näo é nenhuma, porque todos säo vaidade.

20 Todos väo para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltaräo ao pó.

21 Quem sabe que o fólego do homem vai para cima, e que o fólego dos animais vai para baixo da terra?

22 Assim que tenho visto que näo há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa é a sua porçäo; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele?

segunda-feira, abril 28, 2008

História e histórias - Por Reinaldo Azevedo

No que concerne ao anticlericalismo, somos todos filhos da Revolução Francesa, mais particularmente do jacobinismo. Dica aos estudantes que quiserem comprar uma boa briga em sala de aula — tomando cuidado: petralha é rancoroso e pode usar a nota (a avaliação) como instrumento de punição e tortura psicológica. Sempre que o esquerdofrênico começar a babar seu ódio contra a Igreja Católica por causa das “torturas da Inquisição”, cabe ao bom estudante indagar:
- Professor(a), não havia tortura antes da Inquisição?
- Professor(a), governos laicos também torturavam?
- Professor(a), o mundo antes da Igreja Católica era melhor e mais justo?
- Professor(a), se o cristianismo era tão mau, por que começou como uma religião dos pobres e de resistência (se ele negar, você escreve pro Tio Rei, que vai socorrê-lo com bibliografia)?

Sou eu um relativista, como acusa um leitor (que me pede mais delicadeza com Marilena Chaui, por exemplo)? Não. Nem revisionista. Acho que a Igreja tem de arcar com seus excessos (ver abaixo). Mas o fato é que a Inquisição tinha mais critério e cuidados do que os governos laicos em seus interrogatórios. A Inquisição ibérica, especialmente a espanhola, fugiu ao controle de Roma. Ainda assim, documentação do Vaticano — que se desculpou — dá conta de que, em 125 mil processos, menos de 2% dos acusados foram condenados à morte. Em seis séculos! Fidel e o Porco Fedorento fizeram mais do que isso em mortos logo no primeiro ano da revolução cubana.

Não estou estabelecendo uma hierarquia de assassinatos. Só estou dizendo que é preciso ver a coisa em seu tempo. Isso não é relativismo. É história. Ou, agora, chamaremos de “injusta” a democracia grega porque excluía as mulheres, os escravos e os pobres? E a ação da Igreja Católica tem de se vista à luz do que era a cultura política e jurídica do seu tempo. Assim como se deve fazer a mesma coisa com o comunismo. E, então, cumpre indagar: quem sai perdendo?

Vamos perguntar ainda ao professor petralha:
- As alternativas à Igreja Católica, no seu tempo, eram melhores ou piores? Um mínimo de honestidade intelectual demonstrará que eram piores.
- E ao comunismo? Havia uma alternativa melhor — do ponto de vista do bem-estar e das liberdades (e que não fosse o fascismo)? Havia.
- E ao fascismo? Havia uma alternativa melhor — do ponto de vista do bem-estar e das liberdades (e que não fosse o comunismo)? Havia.

Comunismo e fascismo são erupções reacionárias — eles, sim — do processo político. Pela simples e óbvia razão de que o Ocidente já havia produzido algo melhor do que aquilo. Um bom exemplo da estupidez nazista, como sabem, é Mengele. A ciência desautorizava sua “ciência”. Ele não era um ousado, um iconoclasta. Era apenas um tarado moral que vivia sob a proteção do poder absoluto. Sempre tomando os chamados “direitos humanos” como referência, pergunta-se: um inquisidor dos séculos 15, 16 ou 17 tinha de seus “crimes” a mesma consciência que tinham de seus respectivos um Stálin ou um Hitler? Não! E a razão é simples: “direitos humanos” também são humanas construções. O estoque de pensamento, nessa área, era muito maior, mais rico e mais variado no tempo em que viveram os dois ditadores do que naquele vivido pelos inquisidores.

“Sei, Reinaldo, então a Igreja Católica está livre de pecados!?”. Não! Não darei a ela o benefício que os próprios papas, ao longo do tempo, não deram. Só que é preciso saber também quem acusa, não é? Acabei de ler, por razões profissionais, uns tantos livros de história. Os professores estão dizendo aos alunos, por exemplo, que, da Revolução Francesa, restou o ideal de “liberdade, igualdade e fraternidade”. E, da Igreja, a Inquisição. Trata-se de uma falácia gigantesca. E o Terror jacobino? E as execuções sumárias praticadas inclusive por seus próprios pares? E o Império Romano pré-cristão?

Leiam, a propósito, reportagem de 2004, de Verity Murphy, da BBC:

Segundo o relatório de 800 páginas, a Inquisição, que espalhou temor na Europa durante a Idade Média, não praticou tantas execuções ou tortura como dizem os livros de história.

O editor do novo livro, professor Agostino Borromeo, sustenta que, na Espanha, apenas 1,8% dos investigados pela Inquisição espanhola foram mortos. Apesar disso, o papa João Paulo 2º novamente pediu desculpas pelos excessos dos interrogadores, expressando pesar por "erros cometidos a serviço da verdade por meio do recurso a métodos não-cristãos".

O papa, porém, não ultrapassou a regra da igreja segundo a qual os pontífices não criticam os seus predecessores. O papa Gregório 9, que criou a Inquisição em 1233 para combater a heresia (a negação da verdade da fé católica), não foi mencionado no comunicado.

Hereges

Após a consolidação do poder na Europa da Igreja Católica Romana, nos séculos 12 e 13, ela estabeleceu a Inquisição para assegurar que os hereges não minassem a sua autoridade. O sistema tomou a forma de uma rede de tribunais eclesiásticos com juízes e investigadores. As punições aos condenados variavam de visitas forçadas à igreja ou fazer peregrinações até a prisão perpétua ou execução na fogueira. A Inquisição estimulava delações, e os acusados não tinham o direito de questionar a pessoa que o havia acusado de heresia.

Ela atingiu o seu pico no século 16, quando a igreja enfrentava a reforma protestante. Seu julgamento mais famoso aconteceu em 1633, quando Galileu foi condenado por postular que a Terra girava ao redor do Sol. A Inquisição espanhola, que se tornou independente do Vaticano no século 15, praticou os abusos mais extremos, sobretudo com o uso dos autos da fé, em que matavam os condenados em fogueiras públicas.

Seus representantes torturavam as vítimas, realizavam julgamentos sumários, forçavam conversões e aprovavam sentenças de morte. "Não há dúvidas de que, no começo, os procedimentos planejados foram aplicados com rigor excessivo, que em alguns casos foram degenerados e se tornaram verdadeiros abusos", diz o novo estudo do Vaticano. Mas o relatório, preparado ao longo de seis anos, argumenta que a Inquisição não foi tão má como se costumava crer.

'Bonecos no fogo'
Borromeo cita como exemplo que, de 125 mil julgamentos de suspeitos de heresia na Espanha, menos de 2% foram executados. Ele afirma que muitas vezes bonecos eram queimados para representar aqueles que foram condenados à revelia. E que bruxas e hereges que demonstravam arrependimento no último minuto recebiam algum tipo de alívio para a dor quando eram estrangulados antes de serem queimados.

Para aqueles que possuem ligação com as vítimas da Inquisição, porém, a declaração do Vaticano de que ela não era tão má quanto se dizia tem pouca importância. Os valdesianos, membros de uma seita protestante declarada herege no século 12, estavam entre as vítimas da Inquisição. "Não importa se há muitos ou poucos casos. O que é importante é que você não pode dizer: 'Estou certo, você está errado, e eu vou te queimar'", disse Thomas Noffke, um pastor valdesiano americano que vive em Roma. Ainda segundo o novo relatório, no auge da Inquisição a Alemanha matou mais bruxas e bruxos que em qualquer outro lugar, cerca de 25 mil.

Civilização, barbárie e relativismo: conteste seu professor petralha! - Por Reinaldo Azevedo

Sempre que se apontam os crimes da esquerda, passados e presentes, lá vêm os neo-relativistas (que nada têm de “neo”, uma vez que defendem algo bem antigo) com a sua ladainha:
- “E o que dizer da história da Igreja Católica?
- “E o que dizer do capitalismo?
- “E o que dizer da colonização da América” (como sabem, um neo-relativista pensa que é índio)?

Nas universidades brasileiras, jovens são verdadeiramente molestados por esse tipo de abordagem de seus professores petralhas. Os estudantes pressentem que o vagabundo está disposto a justificar os crimes da esquerda, mas, muitas vezes, por falta de experiência política, falta-lhes uma boa resposta. Afinal, estão lidando com especialistas em farsa. Vamos enfrentá-los.

Peguemos o caso da Igreja. Sua história sempre foi meritória? Ah, evidentemente não. O papa Bento 16 é o primeiro, em ordem de importância na fé que professa, a reconhecê-lo. A trajetória do capitalismo também não é uma coleção só de virtudes. Mas esperem: com que olhos se quer ver o passado? À luz do que sabemos hoje ou do que se sabia então? E os jesuítas? Só fizeram um bem à América? Quem está perguntando? Um herdeiro dos tupis ou um da cultura ocidental? No segundo caso, a resposta é “sim”.

Recomendo, com entusiasmo, que vocês comprem ou aluguem a série Roma, uma formidável reconstituição de época. Ganhei de presente todos os DVDs e os vi com grande interesse. Não chegam a ser uma alternativa a Edward Gibbon ou a Suetônio, mas contribuem para educar a percepção: vê-se a história segundo o seu tempo, não com os olhos judiciosos de quem emprega critérios contemporâneos para analisar o passado.

No caso dos jesuítas, então, o debate pode ser ainda mais interessante. É farta a bibliografia demonstrando que o alcance humanista (mesmo para a época) de sua pregação era superior àquele da colonização em sua dimensão puramente econômica. Basta ler Padre Vieira. Ainda assim, que se observe: ver um senhor do engenho do século 17 com os mesmos olhos de censura com que, justamente, vemos hoje um explorador de trabalho escravo não é humanismo, mas estupidez.

Voltemos à esquerda. Dá para perdoar o comunismo trazendo para a arena do debate outras experiências históricas, de sorte que ou condenamos tudo ou absolvemos tudo? Fosse eu um comunista, recomendaria que não se fizesse isso. Porque aí seria pior. Para um comunista, melhor é ficar com Lênin, um imoralista muito pouco preocupado com o que a humanidade havia produzido na cultura até então. Melhor ser um intelectual bárbaro do que idiota.

A esquerda intelectual privatiza as palavras. É o caso de “reacionário”, sinônimo de tudo o que há de ruim, atrasado, passadista. A “direita” seria, assim, “reacionária”. Eu não ligo que me chamem de reacionário. Mas sei que não sou. Se olho a trajetória da história humana, entendo que seu aspecto mais virtuoso é a liberdade individual. Não é por acaso que a pedra de toque das democracias é o “habeas corpus”, o “seja dono do teu corpo”. Ele é o reconhecimento, no terreno jurídico, da existência do indivíduo. Observem: quando se instala uma ditadura, qual é a primeira providência dos gorilas? Justamente a suspensão do habeas corpus, que nunca valeu nos países comunistas. Afinal, o corpo individual não existe; só o do estado.

Por que o comunismo é nefasto, entre tantos outros defeitos? Porque despreza, ignora ou esmaga as conquistas da civilização. Ele, sim, é genuinamente reacionário. Faz a história humana caminhar para trás. Pegue-se o caso da União Soviética. Em três décadas de consolidação do socialismo, matou-se mais gente do que o que se conhecia da sangrenta história russa (para ficar na república mais importante) até ali. E por quê? Para se construir qual homem?

Para se construir homem nenhum, uma vez que o indivíduo não existia. O jesuitismo, acreditem, era um avanço no seu tempo: incorporava o humanismo judaico-cristão, uma novidade para os povos que viviam sob o ditadura da natureza. E certamente colaborou para algumas tantas injustiças. Mas era “progressista”. Trata-se de uma visão canhestra, pobremente marxista, supor que ele era apenas a superestrutura ideológica da colonização. Não era. Os jesuítas foram até o limite do que a cultura cristã havia produzido até ali, inclusive opondo-se à escravidão — até o limite, claro, do que permitia o estado. Quando ultrapassaram esse limite, foram expulsos do Brasil.

A pergunta que vocês têm de fazer aos entusiastas da esquerda, aos amantes do relativismo, a seus professores esquerdopatas e a eventuais fãs da União Soviética é a que segue: o que foi que os comunistas fizeram do estoque que já conhecíamos de liberdades públicas, de liberdades individuas, de tolerância, de convivência com a diferença? Eu respondo: eles o massacraram; preferiram o totalitarismo, pressuposto da “ditadura do proletariado”. Nesse particular (e em muitos outros), não se distingue no nazifascismo.

Cretinos me escrevem, por exemplo, afirmando que Edir Macedo nada mais faz do que repetir o que a Igreja Católica fez no passado. Trata-se de mentira, de ignorância histórica, de falta de leitura. Mas nem vou me dedicar a isso agora. Prefiro fazer uma pergunta: ainda que fosse verdade, caberia reeditar supostas práticas superadas há séculos?

A verdade insofismável é que REACIONÁRIA é a esquerda. Em nome de um suposto futuro, ela despreza a maior de todas as conquistas do homem: a liberdade de consciência. Observem que esta história de que, no fundo, tudo é a mesma coisa nunca serve para elogiar a democracia e sempre é útil para fazer a apologia do comunismo, das esquerdas e do crime em nome de uma causa.

A tese, em suma, de que o crime é uma constante na história humana nunca serve aos inocentes e sempre busca aliviar as costas dos culpados. O comunismo jogou no lixo cinco séculos de cultura humanista e, ainda hoje, se manifesta em metástases. Pauta a ignorância engajada no Capão Redondo e nas redações. Prometeu uma nova civilização. Como deu com os burros n’água, contenta-se em glorificar a barbárie. Quem diria! Um relativista é sempre um absolutista: do crime!

domingo, março 30, 2008


Monstros

Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 28 de fevereiro de 2008


Para os comunistas e seus bajuladores, a morte de uns 400 terroristas, durante o regime militar brasileiro, foi algo de incomparavelmente mais grave, mais revoltante, mais intolerável do que a matança de 75 milhões de civis chineses pela ditadura de Mao Dzedong, de 20 milhões de russos pelo governo soviético ou de 3 milhões de cambojanos pela quadrilha de Pol-Pot. Claro, os comunistas são diferentes de nós. Segundo Che Guevara, são "o primeiro escalão da espécie humana". Se você mata um deles, mesmo em defesa própria, é crime hediondo. Se ele mata 100 mil de nós, desarmados e amarrados, torna-se um herói, que é como o senhor Mino Carta define Fidel Castro.

Protestando contra a comparação quantitativa entre a ditadura brasileira e a cubana, que o colunista Reinaldo Azevedo faz na última Veja, Gerald Thomas vocifera seu sacrossanto horror à contagem de cadáveres e em seguida se põe a contá-los por sua vez, acusando os militares brasileiros pela "perda da vida de milhares, digo, milhares de vidas inocentes". Primeiro, não eram inocentes: eram guerrilheiros armados, que só começaram a morrer depois de estourar com bombas dezenas de civis (estes sim, inocentes). Segundo: não foram milhares, foram quatro centenas na mais hiperbólica das hipóteses, jamais submetida a revisão crítica. Para Gerald Thomas, números são um expediente retórico desonesto quando verdadeiros: só os falsos são argumentos honrados.

Sinceramente, já estou velho demais para continuar fingindo que indivíduos capazes de julgar seus semelhantes com um critério tão desproporcional, tão disforme, tão manifestamente iníquo, sejam pessoas normais e decentes com quem eu não tenha senão divergências filosóficas. Esses sujeitos são doentes, são sociopatas perigosos, incapazes de olhar para os discordantes sem antever, com sádica alegria, o cadáver do "inimigo de classe" girando no espeto como um frango no forno da História.

Eis alguns - só alguns - dos objetivos proclamados abertamente pelos líderes e mentores comunistas:

1. Karl Marx: extermínio de classes sociais inteiras e de uns quantos "povos inferiores" (sic).

2. V. I. Lênin: terrorismo sistemático como fórmula de governo.

3. Leon Trotsky: militarização completa do trabalho industrial e agrícola. Supressão da liberdade de escolher emprego.

4. Stálin: "Morte aos pequenos proprietários rurais. Ódio e desprezo aos que os defendem" (sic).

5. Che Guevara: Treinar os militantes para que se tornem "eficientes e frias máquinas de matar" (sic).

Notem bem: não são crueldades impremeditadas, sobrevindas no calor da batalha. São intenções declaradas.

Como é possível que alguém em seu juízo perfeito considere o comunismo um belo ideal humanitário, que um acaso infeliz desviou de seus altos propósitos?

Foi só por um desejo insano de enganar-se retroativamente a si próprios que muitos comunistas, depois da morte de Stálin, começaram a espremer seus cérebros para explicar como o regime dos seus sonhos pudera "degenerar" em tanta violência e maldade. Não era degenerescência: era a execução racional e bem sucedida de planos traçados com muita antecedência - desde Marx - e levados à prática com a frieza metódica de uma obra de engenharia.

Fidel Castro, Guevara, Pol-Pot, Lênin, Stálin, Trótski, Marx - quem quer que escreva uma só palavra em favor desses monstros é seu semelhante, distinguindo-se deles em tamanho apenas, não em qualidade. Ainda que por covardia ou falta de ocasião não venha a realizar pessoalmente seus desígnios macabros, não esconde sua admiração por quem os realiza. E depois ainda se faz de horrorizado ante quem cometeu crimes incomparavelmente menores, se é que é crime apelar à violência para deter um genocídio anunciado e já em fase avançada de execução.

Tesxo extraído do site:
www.olavodecarvalho.org

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

O futuro da direita

Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 21 de fevereiro de 2008

A Playboy deste mês publica uma entrevista reveladora com alguns líderes emergentes do chamado “liberalismo” brasileiro, filhos de velhos caciques regionais falecidos, aposentados ou desativados. Reveladora, digo eu, porque ilustra com clareza didática algumas obviedades que tenho publicado nesta coluna, mas que os bem-pensantes insistem em não querer admitir, como outrora se recusavam a admitir a existência do Foro de São Paulo.

A mais flagrante delas é que não existe direita politicamente relevante no Brasil. Os entrevistados não só rejeitam a denominação de direitistas – o que já é bastante significativo, tendo em vista o orgulho com que os esquerdistas se assumem como tais --, mas subscrevem no fim das contas todo o programa sociocultural da esquerda, com a única diferença de que desejariam realizá-lo pelo livre mercado em vez da ação estatal direta.

Que isso constitua mesmo uma diferença, é altamente duvidoso. Do ponto de vista econômico, a disputa entre liberais e socialistas no mundo vai-se tornando cada vez mais adjetiva: nenhum político é louco o bastante para advogar em público a supressão do Estado previdenciário, nem idiota o suficiente para continuar acreditando na eliminação total da propriedade privada. A guerra entre os sistemas tornou-se uma tênue oscilação para lá e para cá de um confortável meio-termo. A direita quer o capitalismo sob a proteção do governo-babá, a esquerda quer o socialismo vitaminado pela força do livre mercado. É a tese de Paul Edward Gottfried em After Liberalism : Mass Democracy in the Managerial State (Princeton University Press, 2001): junto com o socialismo real morreu também o liberalismo ideal. A vitória da “revolução dos gerentes” matou os dois, inaugurando a era da democracia de massas, o que é o mesmo que dizer: o império universal da burocracia.

Com isso, o foco da disputa efetiva transferiu-se para um domínio mais sutil -- e infinitamente mais decisivo para o futuro da humanidade: o sonho do espírito revolucionário já não é o controle estatal da economia, mas o controle estatal da vida privada, da mentalidade popular, dos usos e costumes, da imaginação e dos sentimentos. É promover a ruptura total com as tradições históricas e operar enfim a longamente ambicionada mutação radical da natureza humana. Décadas atrás os melhores cérebros da esquerda – Lukács, Gramsci, os frankfurtianos – já haviam concluído que nesse campo, e não na economia, seria travada a batalha decisiva. Mas a idéia era prematura quando a lançaram. O advento da “democracia de massas” vem dar-lhe uma atualidade explosiva, preparando o terreno para a revolução cultural globalizada.

No novo contexto, o dever máximo ou único de uma direita historicamente consciente é defender os princípios e valores civilizacionais milenares, resistindo à ambição insana de planejadores sociais para os quais a espécie humana não passa de matéria-prima para experimentos que variam entre o irresponsável e o macabro.

Mas muito provavelmente essa resistência será em breve criminalizada como extremismo de direita, e, se não lutar como um exército de leões, desaparecerá do cenário político decente. Só sobrará lugar para a “direita bossa nova”, como a chama a Playboy – a direita que cede tudo em troca de um pouco de capitalismo.

A economia de mercado deve, sim, ser defendida, porque só nela os princípios e valores hoje ameaçados podem subsistir. Mas abdicar deles em troca da economia de mercado pura e simples, fazendo dela a única finalidade em vez de um meio entre outros, é servir duplamente ao esquerdismo, entregando-lhe de mão-beijada o que ele mais almeja conquistar e ainda criando uma camuflagem “capitalista” para dar aparência inofensiva à mais temível mutação revolucionária de todos os tempos.



Extraído do site: www.olavodecarvalho.org