segunda-feira, setembro 04, 2006

Uma breve história do machismo


Breve história do machismo
Olavo de CarvalhoJornal da Tarde, 16 de agosto de 2001

As mulheres sempre foram exploradas pelos homens. Se há uma verdade que ninguém põe em dúvida, é essa. Dos solenes auditórios de Oxford ao programa do Faustão, do Collège de France à Banda de Ipanema, o mundo reafirma essa certeza, talvez a mais inquestionada que já passou pelo cérebro humano, se é que realmente passou por lá e não saiu direto dos úteros para as teses acadêmicas.
Não desejando me opor a tão augusta unanimidade, proponho-me aqui arrolar alguns fatos que podem reforçar, nos crentes de todos os sexos existentes e por inventar, seu sentimento de ódio ao macho heterossexual adulto, esse tipo execrável que nenhum sujeito a quem tenha acontecido a desventura de nascer no sexo masculino quer ser quando crescer.
Nosso relato começa na aurora dos tempos, em algum momento impreciso entre Neanderthal e Cro-Magnon. Nessas eras sombrias, começou a exploração da mulher. Eram tempos duros. Vivendo em tocas, as comunidades humanas eram constantemente assoladas pelos ataques das feras. Os machos, aproveitando-se de suas prerrogativas de classe dominante, logo trataram de assegurar para si os lugares mais confortáveis e seguros da ordem social: ficavam no interior das cavernas, os safados, fazendo comida para os bebês e penteando os cabelos, enquanto as pobres fêmeas, armadas tão-somente de porretes, saíam para enfrentar leões e ursos.
Quando a economia de coleta foi substituída pela agricultura e pela pecuária, novamente os homens deram uma de espertinhos, atribuindo às mulheres as tarefas mais pesadas, como a de carregar as pedras, domar os cavalos, abrir sulcos na terra com o arado, enquanto eles, os folgadinhos, ficavam em casa pintando potes e brincando de tecelagem. Coisa revoltante.
Quando os grandes impérios da antiguidade se dissolveram, cedendo lugar aos feudos perpetuamente em guerra uns com os outros, estes logo constituíram seus exércitos particulares, formados inteiramente de mulheres, enquanto os homens se abrigavam nos castelos e ali ficavam no bem-bom, curtindo os poemas que as guerreiras, nos intervalos dos combates, compunham em louvor de seus encantos varonis.
Quando alguém teve a extravagante idéia de cristianizar o mundo, tornando-se necessário para tanto enviar missionários a toda parte, onde arriscavam ser empalados pelos infiéis, esfaqueados pelos salteadores de estradas ou trucidados pelo auditório entediado com os seus sermões, foi novamente sobre as mulheres que recaiu o pesado encargo, enquanto os machos ficavam maquiavelicamente fazendo novenas ante os altares domésticos.
Idêntica exploração sofreram as infelizes por ocasião das cruzadas, onde, armadas de pesadíssimas armaduras, atravessaram os desertos para ser passadas a fio d'espada pelos mouros (ou antes, pelas mouras, já que o machismo dos sequazes de Maomé não era menor que o nosso). E as grandes navegações, então! Em demanda de ouro e diamantes para adornar os ociosos machos, bravas navegantes atravessavam os sete mares e davam combate a ferozes indígenas que, quando as comiam, – era porca miséria! – no sentido estritamente gastronômico da palavra.
Finalmente, quando o Estado moderno instituiu o recrutamento militar obrigatório, foi de mulheres que se formaram os exércitos estatais, com pena de guilhotina para as fujonas e recalcitrantes, tudo para que os homens pudessem ficar em casa lendo A Princesa de Clèves.
Há milênios, em suma, as mulheres morrem nos campos de batalha, carregam pedras, erguem edifícios, lutam com as feras, atravessam desertos, mares e florestas, sacrificando tudo por nós, os ociosos machos, aos quais não sobra nenhum desafio mais perigoso que o de sujar nossas mãozinhas nas fraldas dos nossos bebês.
Em troca do sacrifício de suas vidas, nossas heróicas defensoras não têm exigido de nós senão o direito de falar grosso em casa, de furar umas toalhas de mesa com pontas de cigarros e, eventualmente, de largar um par de meias no meio da sala para a gente catar.


Texto retirado do site: www.olavodecarvalho.org

quarta-feira, julho 26, 2006

Manifesto contra o politicamente correto

Félix Maier em 25 de julho de 2006

Resumo: Não se esqueça de que você tem, sim, todo o direito de dizer as palavras que quiser, de expressar a sua opinião sobre o que bem entender.


Nota do autor:
Abaixo, manifesto contra o politicamente correto, feito durante o lançamento do livro do embaixador Meira Penna, "Polemos", dia 19/07/2007, em Brasília. Tem como objetivo combater a perseguição movida por um aluno contra o Prof. Paulo Kramer, da Universidade de Brasília, que se julgou ofendido com uma simples palavra proferida em sala de aula.

Você sabia que o "politicamente correto" é uma estratégia criada pela esquerda internacional para fazer com que os próprios cidadãos se policiem uns aos outros, numa espécie de polícia política, enquanto o Estado, tirando proveito político dela, vai nos transformando em criminosos, sujeitos a penas de prisão, pelo simples fato de emitirmos nossa opinião e de dizermos o que sentimos sobre os mais variados assuntos?
Você já parou para pensar que quando o integrante de uma "minoria" é beneficiado por políticas assistencialistas, todos os demais cidadãos que não fazem parte dessa "minoria" são expropriados em seu direito de concorrer livremente com ele?
Você gostaria de perder o sagrado direito à liberdade de expressão, mesmo que a sua expressão possa ser considerada deselegante ou mal educada?
Você acha que cabe à classe política ditar regras de educação para o povo, quando ela própria só dá péssimos exemplos por meio de mentiras, corrupção, apadrinhamentos, assassinatos e cumplicidade com o crime organizado?
Você gosta de ser enganado com estratégias desse tipo, enquanto o Estado vai surrupiando quase metade do seu salário em impostos, sem empregá-los em seus devidos fins, e depois joga a responsabilidade por todas as nossas mazelas na "sociedade", da qual você faz parte, criando-lhe um sentimento de culpa que você não poderia e não deveria carregar?
Se você é uma pessoa que tem família e que foi educado de acordo com os valores tradicionais da civilização ocidental (liberdade e responsabilidade individual, direito de propriedade - seja ela um simples lápis ou uma grande fazenda -, respeito aos mais velhos, à verdadeira autoridade e às leis, além de amor ao próximo e outros tantos valores que por milênios imperaram entre os homens), está na hora de abrir os olhos antes que lhe cassem todos esses valores.
Não permita, jamais, que lhe retirem o direito à liberdade de expressão, um dos fatores mais marcantes da personalidade de cada um de nós.
Não se esqueça de que você tem, sim, todo o direito de dizer as palavras que quiser, de expressar a sua opinião sobre o que bem entender, porque você tem capacidade e discernimento suficientes para saber o que está dizendo.


DIGA NÃO AO "POLITICAMENTE CORRETO". PORQUE CORRETO É VOCÊ SER VOCÊ MESMO, EM SUA INTEIREZA, E NÃO O BONECO QUE O ESTADO QUER QUE VOCÊ SEJA!

DEFENDA O SAGRADO DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO, ANTES QUE VOCÊ SEJA O PRÓXIMO A TER DE CONTRATAR UM ADVOGADO OU A PARAR ATRÁS DAS GRADES!

Félix Maier é escritor e publicou o livro "Egito - uma viagem ao berço de nossa civilização", pela Editora Thesaurus, Brasília

© 2006 MidiaSemMascara.org
Extraído do site:
www.midiasemmascara.org

quinta-feira, julho 20, 2006

Janer Cristaldo

NAZISMO NEGRO E GUILDA BRANCA

Uma nuvem de estupidez parece pairar sobre o Congresso nacional nestes dias. Não que sobre o Congresso costumem pairar nuvens de inteligência. Mas agora a estupidez concentrou-se e ameaça cair como chuva sobre o país todo. Dois projetos, que pretendem mandar o Brasil de volta alguns séculos para trás, estão sendo discutidos em Brasília. Um deles, o do senador Paulo Paim, já aprovado no Senado, quer mandar o país de volta à América racista do tempo das leis Jim Crow, ou talvez à Alemanha hitlerista ou mesmo à África do Sul do apartheid.
Em verdade, nada de novo tenho a dizer sobre o assunto. Desde que se começou a falar de cotas, tenho denunciado esta manobra dos movimentos negros como algo que só servirá para estimular o racismo. A estupidez avança e cada vez com mais audácia. Se antes falava-se apenas em cotas, o projeto do senador Paim pretende agora identificar os brasileiros por raça, como se fazia com os judeus na Alemanha nazista. A estupidez se repete? O cronista se vê constrangido a repetir-se.
O Estatuto da Igualdade Racial, já o comentei recentemente, ao denunciar a extinção do mulato. De uma penada, o senador pretende extirpar da história do país a prova mais evidente do bom convívio racial. O expediente é elementar. Como os negros constituem apenas 5,4 % da população nacional, o senador passa a chamar de negros todo o contingente de mulatos, que são 39,9%. Mais um pouco e o Brasil será definido como majoritariamente negro, aliás como já é visto por muitos americanos e europeus. Quer-se adotar o modelo americano, que não admite miscigenação. Ou é preto ou é branco. Alguns intelectuais, fugindo ao espírito de rebanho que caracteriza a espécie, apresentaram ao Congresso um documento com 114 assinaturas, com argumentos contrários ao Estatuto e às reservas de cotas raciais. O documento foi logo satanizado como o "Manifesto da Elite Branca", como se os malvados brancos tivessem algum interesse em manter a população negra afastada de seus territórios.
O governo, que desde então vinha insistindo na manutenção das cotas universitárias, sentiu-se constrangido a recuar. Fala agora em cotas sociais. Se por um lado desvincula a reserva de vagas do elemento racial, por outro lado mantém o absurdo propósito de mandar para a universidade pessoas que não preenchem os requisitos básicos para nela entrar, enviando de vez para o brejo o ensino universitário, hoje já extremamente deficiente. Paulo Paim pôs um bode na sala. O governo retira o bode e deixa lá o resto dos animais. Isso sem falar que tal projeto é flagrantemente inconstitucional. "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza", reza o artigo 5º da Carta Magna. Se aprovado, alguns serão mais iguais que outros. Boa parte da população negra gostou da idéia de ganhar no tapetão e não percebe a armadilha em que os negros estão caindo: tendo entrado pela porta dos fundos na universidade, serão naturalmente rejeitados no mercado de trabalho.
Prevendo isso, o senador já garante em seu projeto a presença de ao menos 20% de atores e figurantes afro-brasileiros em programas e propagandas de TV. A seqüência lógica será impor estas mesmas cotas inclusive às empresas privadas em geral, acabando-se definitivamente com qualquer critério de capacitação. Embutida no projeto, vem uma disciplina obrigatória nos colégios, História Geral da África e do Negro no Brasil, como se a história da África e do negro fosse mais importante para o Brasil que a História da Grécia e dos gregos, de Portugal e dos portugueses, da Itália e dos italianos, da América e dos americanos. Seria interessante imaginar como será tratada na nova disciplina a venda de escravos aos brancos europeus pelos chefes tribais negros da África. Ou será um capítulo proibido da história, como a matança dos oficiais poloneses na floresta de Katyn pelas tropas de Stalin, como a matança de sete mil religiosos espanhóis pelos comunistas na Espanha?
O projeto do senador prevê ainda a identificação racial dos negros em documentos de identidade. Segundo o Estatuto, os negros passarão a ter carteirinha de negro. Curioso observar que nas décadas passadas os movimentos negros haviam concluído que raça não existia. Agora passou a existir e deve constar em documento. Como o branqueamento é bastante generalizado no Brasil, talvez fosse melhor uma tatuagem ou adereço bem visível, como Hitler instituiu na Alemanha para judeus e homossexuais. Se aprovado tal monstrengo, este país onde a miscigenação sempre foi regra passará a discriminar oficialmente por raça. Estamos caminhando a largos passos rumo a um nazismo negro.
Não bastasse tal despautério, outro projeto, de iniciativa do deputado Pastor Amarildo, pretende mandar o país de volta mais longe ainda no tempo, para os dias da Idade Média, quando as guildas controlavam ferreamente o exercício das profissões. No fundo, a intenção é sufocar a liberdade de expressão, regulamentando uma profissão que não pode ser regulamentada, o jornalismo. Se antes apenas exigia-se curso para o exercício do jornalismo, em função de um decreto-lei promulgado por uma junta militar em 1969, o novo projeto, aprovado pelo Congresso na calada da Copa, pretende enquadrar até mesmo colunistas e comentaristas. Ora, este dispositivo ditatorial não encontra paralelo em nenhum regime democrático do mundo. Jornalista é quem tira seus proventos do ofício de jornalismo e fim de papo.
O projeto do pastor é uma reação à rejeição da proposta de um Conselho Federal de Jornalismo, feita pela Fenaj (Federação Nacional de Jornalistas) e encaminhada em 2004 ao Legislativo pelo Governo Federal. Devido à pressão de jornalistas e proprietários de veículos de comunicação, a tentativa de cercear ainda mais a liberdade de expressão foi retirada no mesmo ano. De novo, as cotas. A guilda branca quer proteger a corporação. Enquanto o país se empolgava com a Copa, o projeto passou quase clandestinamente no Congresso. Depende agora de veto ou aprovação do Supremo Apedeuta. O espantoso é que tal dispositivo surge precisamente nestes dias de Internet, em que qualquer cidadão pode montar seu blog e fazer jornalismo a seu gosto.
O Supremo Apedeuta, como é sabido, não tem maiores apreços pela imprensa. Não seria de duvidar que assumisse esta excrescência jurídica. Logo nestes dias em que a WEB libertou os jornalistas dos custos de papel, gráfica e distribuição. Os blogs constituem hoje jornalismo de alto nível e mais rápido que o jornalismo em papel. Os comunistas chineses já perceberam isto e estão censurando a Internet.
Se assumir esta excrescência, o Supremo Apedeuta estará lutando em vão contra o amanhecer.
- Enviado por Janer @ 12:28 AM

Retirado do blog do Cristaldo:
www.cristaldo.blogspot.com

sexta-feira, abril 14, 2006

Procedimentos necessários após baixar o arquivo de música


Amadas, o arquivo de música The Strokes - First impressions of earth, está compactado. Portanto, faz-se necessário que ápós baixá-lo, seja descompactado. Para tanto, use um programa chamado WINWAR. Esse programa é leve e é encontrado no site: www.superdownloads.com.br. Procure o programa WINWAR na busca desse site e baixe. E boa diversão.
A próxima postagem de música será do álbum "AMIGOS" (1976), do grande guitarrista mexicano, CARLOS SANTANA.
Aguardem!!!

http://rapidshare.de/files/17984962/The_Strokes_-_First_Impressions_of_Earth_-_2006.rar.html

Amadas, conforme o prometido, aí está o link para baixar o cd FIRST IMPRESSIONS OF EARTH, da banda THE STROKES (2006). Para baixá-lo, basta clicar no título da postagem e seguir as instruções abaixo.
Divirtam-se!!!!




Passo a Passo para fazer Download de MP3 no Rapid Share

1. Clique no link do álbum;
2. Vá até o final da página, clique no botão Free;
3. Na tela que vai aparecer, vá até o final dela e vai aparecer: Download -Ticket Reserved. Please Wait 70 Seconds;
4. Espere até que os 70s acabem, no local do escrito acima irá aparecer: Download - Link;
5. Clique no link com o botão direito do mouse, selecione salvar destino como (Save Target As), escolha uma pasta e aperte Salvar (Save);
6. Se aparecer a mensagem: "Too many users downloading right now. Please try again later or get a PREMIUM-Account", depois que você ter clicado no botão Free, tente novamente.

terça-feira, março 21, 2006

Vinicius de Moraes

O Desespero da Piedade

Meu Senhor, tende piedade dos que andam de bonde
E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quantos enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas
E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina

Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.

Tende imensa piedade dos músicos de cafés e de casas de chá
Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.

Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram
E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.

Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos
Quem em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vão...

Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros
Que se efeminam por profissão mas são humildes nas suas carícias
Mas tende maior piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria
Que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas
Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tente mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tenha piedade das mulheres
Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia que serve na vida
De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta — que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais
Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito
Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto
Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas
Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas
Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas
De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras
Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.

Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e da sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas
A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres
Dos meninos velhos, dos homens humilhados — sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

De um perfil no orkut


Visão política: Libertário ao extremo

Animais de estimação:
Prefiro que fiquem no zoológico

Alguém aí quer comentar?

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Olavo de Carvalho


Notícias da China real

Durante o ano passado, 87.000 protestos e rebeliões eclodiram na China. Nenhum foi noticiado pela mídia nacional. Em compensação, qualquer passeata anti-Bush em Nova York ou na Califórnia é alardeada como sinal de queda iminente do “império americano”.

Numa pesquisa realizada pelo Programa de Atitudes em Política Internacional da Universidade de Maryland, abrangendo 20.791 pessoas em vinte países (v. http://www.complusalliance.org /plugins/ComPlusDoc/details .asp?type=DocDet&ObjectId =MTc4NTg ), 74 por cento dos cidadãos chineses (três por cento a mais até do que os americanos!) julgaram que o livre mercado é o melhor sistema econômico para o mundo. Nem uma linha a respeito saiu no Brasil.

Se na formação de suas opiniões pessoais ou na tomada de decisões políticas e empresariais você se deixa guiar pela imagem do mundo que aparece nos nossos jornais, você está completamente fora da realidade.


Retirado do site de Olavo de Carvalho: www.olavodecarvalho.org

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Alma não tem cor

Alma Não Tem Cor
André Abujamra

Alma não tem cor
Porque eu sou branco?
Alma não tem cor
Porque eu sou negro?

Branquinho
Neguinho
Branco negão
Percebam que a alma não tem cor
Ela é colorida
Ela é multicolor

Azul amarelo
Verde verdinho marrom

sábado, janeiro 28, 2006

Cristaldo


O texto abaixo foi retirado por mim do blog do grande Janer Cristaldo. Fala de um assunto muito em voga atualmente. Para saber mais, leia. Para saber bem mais, vá ao blog do Cristaldo:
www.cristaldo.blogspot.com

Janer Cristaldo

Segunda-feira, Janeiro 16, 2006

A EXTINÇÃO DO MULATO


Movimentos ecologistas estão preocupados com a extinção de baleias, ursos polares, micos-leões-dourados e outras espécies. Pessoalmente, estou preocupado com outra espécie bem mais próxima e mais valiosa, os mulatos e as mulatas. Que, dependendo da inépcia de nossos legisladores, em breve será extinta. Pelo menos do ponto de vista legal. É o que propõe um monstrengo jurídico, de autoria do senador Paulo Paim, o projeto de lei n° 3.198/2000, também chamado de Estatuto da Igualdade Racial. Já foi aprovado pelo Senado e tramita em regime de prioridade na Câmara dos Deputados. De uma só tacada, Paulo Paim extermina legalmente os mulatos do território pátrio: "para efeito deste Estatuto, consideram-se afro-brasileiros as pessoas que se classificam como tais e/ou como negros, pretos, pardos ou definição análoga".

Demorou mas chegou até nós. Está sendo introduzida legalmente no Brasil a classificação ianque, que só consegue ver pretos e brancos em sua sociedade e nega a miscigenização. Este sórdido projeto é antigo, fruto da exportação dos conflitos raciais dos Estados Unidos para um país onde o negro sempre conviveu bem com o branco, tanto que o mulato constitui um contingente considerável da população. Mal foi eleito, o Supremo Apedeuta saiu arrotando urbi et orbi que o Brasil era a segunda nação negra do mundo, depois da Nigéria. Até mesmo uma pessoa aparentemente culta, como Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, prestou-se a corroborar o sofisma safado: "como declarou o presidente Lula, o estreitamento das relações com a África constitui para o Brasil uma obrigação política, moral e histórica. Com 76 milhões de afrodescendentes, somos a segunda maior nação negra do mundo, atrás da Nigéria, e o governo está empenhado em refletir essa circunstância". Ao colocar todos afrodescendentes no mesmo saco dos negros, o ministro demonstra que, nos círculos do poder, mesmo homens cultos se dobram à bajulação.

Ora, segundo o IBGE, a população negra do Brasil, em 99, era de apenas 5,4%. Com o acréscimo de 39,9% do contingente de mulatos, o Brasil estaria perto de ser definido como um país majoritariamente negro, como aliás é hoje considerado por muitos americanos e europeus. Com o projeto do senador, não teremos mais mulatos (ou pardos, no jargão do IBGE), mas apenas afro-brasileiros. O que os ativistas negros esquecem é que o mulato pode denominar-se tanto afro-brasileiro como euro-brasileiro. A tônica no afro tem intenções óbvias: aumentada artificialmente a população negra, torna-se fácil pressionar os legisladores para obter mais vantagens para os que não são brancos. Os ativistas negros no Congresso querem ganhar privilégios no tapetão da semântica.

Sensível ao apelo dos votos, Geraldo Alckmin está encaminhando à Assembléia Legislativa projeto de lei que estabelece o acréscimo de pontuação aos afrodescendentes no concurso público para a Defensoria do Estado. Após os Estados Unidos estarem abandonando a política das ações afirmativas, o governador paulista, em um gesto de mimetismo terceiro-mundista tardio, afirma: "Estamos fortalecendo nossa proposta de ações afirmativas". É um modo de dizer. O que Alckmin parece ignorar é o artigo 5° da Constituição, que reza: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". Alckmin é hoje visto como uma alternativa à permanência do Supremo Apedeuta no poder. Triste alternativa, a de um político que, em sua ambição de votos, começa sua campanha rasgando de uma penada a Constituição brasileira. Se já rasga a Carta Magna enquanto candidato a candidato, podemos imaginar o que ousaria quando no poder.

Nas últimas décadas, os movimentos negros insistiram na idéia de que raça não existe, ser negro seria apenas uma questão de melanina. Quando começou a surgir no Brasil a infeliz idéia ianque de cotas, tanto para a universidade como para admissão em empregos públicos, assistimos a uma súbita reviravolta: raça agora existe e deve ser declarada. O malsinado projeto do senador gaúcho determina que, em várias circunstâncias - no Sistema Único de Saúde, nos sistemas de informação da Seguridade Social, em todos os registros administrativos direcionados aos empregadores e aos trabalhadores do setor privado e do setor público - o quesito raça/cor será obrigatoriamente introduzido e coletado, de acordo com a autoclassificação.

Se até bem pouco afirmar a existência de raças era sinônimo de racismo, a noção de raça agora passou a ser algo bom, digno e justo. Para a advogada Flávia Lima, coordenadora do Programa de Justiça da ONG Núcleo de Estudos Negros, em Florianópolis (SC), a classificação dos indivíduos segundo a raça pode ser um instrumento na luta contra o racismo. A obrigatoriedade de registro da cor seria um ponto positivo do Estatuto, já que permite investigações sobre racismo em diversas esferas da sociedade.

Ó tempora, ó mores!O que ontem era estigma, o registro da cor, passa hoje a ser virtude. Os movimentos negros, ao que tudo indica, terão de jogar ao lixo suas velhas bandeiras. Para o Supremo Apedeuta, por exemplo, até os nigerianos já são afrodescendentes.

Como observa Demétrio Magnoli, na Folha de São Paulo, "os modelos são a África do Sul do apartheid e a Ruanda dos belgas, com suas carteiras de identidade etno-raciais. A nação deixará de ser um contrato entre indivíduos para se tornar uma confederação de raças". Se aprovado na Câmara este projeto infame, os negros e mulatos terão carteirinha única, e esta jamais será a de mulato. Imagine o leitor se um deputado branco sugerisse a instituição da carteirinha de negro. Seria imediatamente comparado a Hitler, que identificou os judeus com a tecnologia Hollerith de cartões perfurados da IBM.

Como os deputados hoje estão mais preocupados em salvar a própria pele do que em discutir quesitos de raça ou cor, corremos o sério risco de que o absurdo estatuto adquira força de lei. Os políticos sentem-se tão à vontade para praticar este estupro, que já o incluem em suas promessas de campanha, como o fez Alckmin. Se a Constituição já foi violada mediante compra de votos, violação a mais violação a menos tanto faz. E assim desaparecerá, banida por lei, a prova mais incontestável do caldeamento de raças no Brasil, o mulato.

Os velhos comunistas podem ter perdido a guerra, mas não perderam os vícios. Luta de classes morta, luta racial posta.

- Enviado por Janer @ 11:32 AM

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Estatuto do Homem


Artigo I - Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.


Artigo II - Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas têm direito a converter-se em manhãs de domingo.


Artigo III - Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV - Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único: O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo V - Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo, porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.


Artigo VI - Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII - Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII - Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá a planta o milagre da flor.


Artigo IX - Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.


Artigo X - Fica permitido a qualquer pessoa, a qualquer hora da vida, o uso do traje branco.

Artigo XI - Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.


Artigo XII - Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.


Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.


Artigo XIII - Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.


Artigo Final. Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.



Thiago de Mello

sexta-feira, janeiro 13, 2006

"No amor somos todos fantoches:Não escolhemos nem certo, nem errado, porque simplesmente não escolhemos.
No amor basta amar!
Afinal, não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo".
Nelson Rodrigues

terça-feira, janeiro 10, 2006

Crônica pré e pós carnaval

Amadas, a crônica abaixo, escrita pelo genial Nelson Rodrigues após o carnaval de 1968, é um dos seus momentos visionários. Aconselho-as a Lê-la antes e depois do carnaval. Depois me digam o sentimento que ela suscita. Percebam como o Nelson está certo (mais uma vez)na sua feliz e inteligente visão do óbvio.
Como ele mesmo diria: "Só os profetas enxergam o óbvio!".

A Viuvez de sarong


Disse não sei quem que o desejo é triste. Triste de acordo, se for verdadeiro. Porque o falso desejo, o desejo apenas representado, é alegríssimo e salubérrimo. Eis o que eu queria dizer: - o carnaval que passou foi um espetáculo inédito na Terra. O turista que aqui veio teve uma sensação de erotismo unânime e colossal.
Os gregos antigos achavam que o estrangeiro é divino. E divino porque não traz nome, nem passado, nem história, nem lenda. Tudo o que diz, ou faz, tem um toque de mistério e de sagrado. Assim pensavam os gregos. Mas eu diria que o turista de carnaval não é divino, mas obtuso. Passou aqui os quatro dias e viu tudo errado.
"Errado, como?" - perguntará o leitor. Explico: - viu um erotismo que absolutamente não houve. Nunca se desejou tão pouco e repito: - nunca a mulher foi tão secundária para o homem, nunca o homem foi tão secundário para a mulher. Alguém poderá argumentar com os nus da televisão. E, de fato, o que se viu foi uma nudez indiscriminada, sim, uma nudez multiplicada, obsessiva e feroz.
Usou-se um sarong que realmente só era sarong na cor. Em verdade, em verdade, o sarong era uma nesga de pano, vaga folha de parreira, sei lá. A TV é que olhava tudo com a pupila violenta dos faunos. Lembro-me de um ventre num baile. Durante horas o câmara parou nessa obsessão abdominal. E o espectador só via aquele umbigo, sempre o mesmo. Minto. Via também a cicatriz de uma apendicite recente. Nada de caras, ou de gestos. Só o umbigo e só a cicatriz.
Na praia ou, pior, num campo de nudismo, há uma distância, uma distância que permite o mínimo de idealização da nudez. O olho não está tão próximo que possa descobrir uma pequena cicatriz. Ao passo que a TV elimina qualquer distância. Sua lente aproxima e amplia o umbigo e a cicatriz. Em todos os bailes, a função da imagem foi essa berrante ampliação.
No vídeo, o cavo umbigo era um súbito e feio abismo. E a penungem leve, que o olho não percebe, que o próprio tato não sente, vira uma flora liliputiana, mas visível. Os poros estão lá. Em casa, o telespectador vê, de repente, aquele umbigo invadir sua intimidade. Não são milhares, e eu quase dizia, milhões de umbigos. É um único, sempre e fatalmente o mesmo. E a mesma cicatriz da mesma apendicite.
Mas porque essa fixação cruel e cínica? Ao mesmo tempo em que era imposta a paisagem abdominal, vinha o locutor e falava em "festa sadia". Sadia, como? Sadia, o quê? E todas as estações, todas, insistiam em chamar tudo de "sadio". Uma cidade inteira se despia para milhões de telespctadores. Isso era profundamente "sadio". Uma câmara fixava um único e exclusivo umbigo. Muito saudável. E a cicatriz enfiada na cara do telespectador? Saudabilíssima.
O pobre turista, com a sua obtusidade de turista, via em cada rapaz um fauno de gaita e em cada mocinha uma ninfa de tapete. Mas dizia eu que o desejo não tem nada a ver com alegria e nada a ver com multidão. O desejo é triste e exije o pudor, o segredo, o mistério, a exclusividade do casal (desculpem estar aqui proclamando o óbvio). Aí está dito tudo: - o casal.
Acabamos de ver uma festa coletiva, em que o casal não teve função, nem destino. E os pares que se beijavam para milhões de telespectadores eram falsos casais, fingindo um desejo, representando um amor. Conheço um rapaz que conheceu e amou uma pequena. Imediatamente, os dois construiram uma solidão desesperadora. Ninguém vê o rapaz, ninguém vê a pequena. Eles andam por não sei que catacumbas, não sei que terrenos baldios. Deus me livre que fossem os dois para o baile do Municipal, que é, justamente, o túmulo ululante do amor e, até, do simples e animal desejo. Sempre que um homem e uma mulher se gostam precisam estar prodigiosamente sós, como se fossem o primeiro, único e último casal da Terra.
Nunca houve um carnaval tão triste, porque nunca houve um carnaval tão nu. Dirá alguém que minha obsessão pela nudez é fixação infantil. Não sei se infantil, mas é uma fixação. Os jornais e os locutores vão falar de "alegria, alegria". Realmente, não houve tal. Nada mais triste do que a nudez sem amor. Mas o nu é sempre tão belo, dirão alguns. Nem isso. É feio, e repito: - sem amor, é feíssimo.
Ontem, pela manhã, saio de casa perto do meio-dia. Em baixo, na porta, encontro um amigo. Já no cumprimento sinto a sua amargura. Seu lábio tem o ricto cruel de certas máscaras cesarianas. Diz o "bom-dia" e logo geme: - "Como é feio um umbigo! Você não acha um umbigo um negócio feio pra burro?". Pedia, pelo amor de Deus, a minha soliedariedade estética. Sim, quarta-feira a cidade acordou com o tédio cruel, uma ressaca insuportável de umbigos femininos. Estamos todos ressentidos contra eles.
E deprime ver a soma de esforços e de conivências que uma simpes nudez exige. Uma garota faz, ou compra, um sarong equivalente à folha de parreira. Mas ela não faria isso sozinha. O uso do sarong seria impossível sem o apoio do pai, da mãe, dos irmãos, do marido, do namorado, dos vizinhos, das autoridades, da imprensa, rádio e televisão. Todos aceitam e estimulam porque todos, inclusive as autoridades, querem ser "pra frente". Vi, no Municipal, a viúva de um aviador que se espatifou contra a montanha. Pôs ela um sarong na sua viuvez e foi sambar. Quero crer que o falecido também autorizou.
Vejam quantas instituições se juntaram para promover um símples umbigo. E, então, a mocinha vai para o Municipal. Será vista por dez mil pessoas no baile. Vamos somar as dez mil pessoas e mais cinco milhões de telespectadores da cidade e Estados. Portanto, cinco milhões e dez mil vão ter o que devia ser exclusividade do bem-amado. E como a televisão amplia mais do que o olho do ser amado, este não verá o que cinco milhões viram com a mais deslavada nitidez.
E perguntará o leitor: - "quer dizer que somos todos cínicos?" Exatamente: - cínicos. Não me venham falar em alegria. Na quarta-feira de cinzas o brasileiro acordou com este sentimento inexorável: - como é feia, triste, humilhada, ofendida, a nudez sem amor.


[29/2/1968]

NELSON RODRIGUES